A GRANDE ODISSEIA 1997




VIAGENSCOMHISTORIA começaram em 1995

http://marrocosimperiodossentidos.blogspot.pt/






                                                                                                                                                                                               




No HOTEL IBIS (em Setúbal) terminou a contagem decrescente. Pararam os relógios depois de um jantar simples e de uma despedida efusiva… foi necessário dormir cedo para uma partida ao alvorecer.
Pesou gravemente no espírito dos participantes a ausência inesperada de dois patrocinadores já considerados tradicionais e de alguns amigos e apoiantes.

Houve consciência do grande sacrificio físico e esforço financeiro que iria ser exigido às equipas, factos que levaram à desistência de três viaturas à última hora.

Pesou também muito negativamente não ter sido possível, a exemplo do ano passado, a Turma dispôr da viatura cedida pela Brisa para apoio mecânico e sanitário às Expedições.

 A PARTIDA

Partida alegre, confiante na realização da primeira etapa dentro do estabelecido. Viaturas artilhadas a carregadas para além do que poderia parecer possível. Como responder a desafios é lema da T.T.T. tristezas deixadas para trás, sol a pino, adeus neblina matinal, avistam-se já os céus de Espanha e um belo dia ensolarado saúda os intrépidos (ou atrevidos) expedicionários.

ATINGIR O OBJECTIVO NO MAIS CURTO PRAZO

Horário quasi rigorosamente cumprido leva-nos a Algeciras e a cruzar o Mediterrânio rumo a Tanger. As já conhecidas formalidades na fronteira Marroquina, com a habitual oferta de ‘souvenirs’ e sempre agradáveis ‘ soyez les bien venues au Maroc’ ràpidamente (talvez 45 minutos), nos lançaram na estrada para concluir a primeira etapa (Setúbal-Rabat).

Cerrar bem os dois olhos para dormir depressa, acordar cedo e vivos para completar em quatro dias a chegada ao ‘bouchon’. Acordar ainda com pachorra para sorrindo ultrapassar todos os controles da «gendarmerie» e da «douane» (feitos para nossa exclusiva segurança (?)); as paragens, as explicações, muitas fotocópias de listagens com os nossos nomes e muito importante… dos nossos pais, moradas e eternamente ‘les souvenirs es le savoir faire du chef’.

                                                                                                

A estrada serpenteia, os campos verdejam a lembrar um inverno recente, o sol quase estival é bom. É preciso andar, andar e continuar a andar. Abastecer «les bagnoles» e seguir. Curioso! O dia passou rápido, são horas de jantar, será que almoçámos? Parece que não tomámos pequeno-almoço! Bem, só mais uns quilómetros, comemos antes de dormir (se houver tempo). Se cumprirmos rigorosamente o programa o regresso será maravilhosamente tranquilo!

É BOM DESCONHECER O QUE O DESTINO RESERVA…

O CANSAÇO, AS BUROCRACIAS E AS SUAS CONTRARIEDADES, FORMALIDADES FRONTEIRIÇAS, O CONTROLE POLICIAL E ALFANDEGÁRIO, O POLICIAMENTO DUVIDOSO E O SAQUE

LA GOUIRA / NOUADHIBOU
As portas de DAHKLA, vencidas horas de formalidades quer na Policia quer na Alfândega, que vão até à exigência de duas fotografias por cada participante (e o fotografo leva horas para as entregar), desalfandegamento e ‘vasculhamento’ das viaturas, finalmente e já tarde adiante, forma-se o «convoi militaire» rumo a LA GOUIRA.

O pomposo «convoi» que engloba viaturas de diversas classes e nos mais variados estados de uso até ao quasi sucata, é gloriosamente defendido por um único soldado marroquino que vai à boleia num qualquer (ou talvez não) automóvel de um seu conterranio, mais carregado que os nossos próprios jeeps.

A Expedição deve um agradecimento aos elementos que prepararam a composição do ‘convoi’ pelas facilidades que nos foram dadas atrasando duas horas a partida e à credibilidade e solidariedade dadas ao nosso chefe.

CURIOSIDADE (horas antes de DAKHLA)
Paragem obrigatória em TAN-TAN PLAGE



 para matar saudades do nosso amigo DIAWO E SUA FAMILIA que tão prestimosa nos foi nas agruras da Expedição anterior.
  
Almoçar uma excelente fritada de peixes acompanhada por um branquinho que a SILENO nos ofereceu e que, com muita dificuldade, lá conseguimos enfiar num dos carros (sem nunca ter sido descoberto pelos marroquinos abstémios).

Estrada adiante, já deserto, mais uma paragem para transferir combustível dos reservatórios suplementares para os depósitos dos jeeps de menor autonomia e… para outros fins. Faltam duzentos e sessenta e nove quilómetros para DAHKLA – e nunca vamos esquecer este número.


                                                                                 
Percurso cumprido e comprido, primeiro controle policial/alfandegário e aí está o nosso big-chief AMANDIO em sérios apuros. Oh Leonor – viste a minha carteira? Oh Helder -  apanhaste a minha  carteira de cima da pedra quando parámos para pôr combustível e outros fins?  Ena pá c’a ganda merda!
 eonor versos Helder, Helder versos Leonor -  O  Musso é o mais rápido, com  menos peso tirando as mulheres e que gasta menos.  Leonor – Helder, foi ao Km. 269. Bora!

E assim se cumpriu.

Quilómetro 268, devagar pode haver diferença entre os quilómetros marcados pelo Patrol e os do Musso, quilómetro 270, 271, 280.
Leonor volta, não pode ser tão longe. Devagar, quilómetro 260, tem que ser para trás. Vai fora da estrada, eu penduro-me no carro a vêr de encontro a mancha do gasóleo que se entornou. Pára, quilómetro 268 eu vou a pé a vêr se encontro a pedra onde o Amandio pôs a carteira.
Helder, já não há tempo, temos de regressar.
  
Eh pá Leonor, só mais uma passagem, agora guio eu. E não encontramos a «filha da fruta» da carteira e o «gajo» tem lá os visas e os documentos dele, está feito!
Olha ainda bem que o passaporte, as vacinas e a carta de condução internacional não cabiam na carteira, senão é que estávamos mesmo feitos. Helder, vamos embora!
Oh pá Leonor custa desistir «a gaja há-de estar por aqui».
Deixa Helder, vamos embora, o tempo é à tira para estarmos lá à partida do «convoi»; no regresso voltamos a procurar e a não ser que algum ‘camelo’ a encontre, ela fica à nossa espera.
Helder! Estás bem? Levas o carro e vamos a ‘abrir’? 
Ok. Leonor. Vamos nessa!
Leonor! Qual é a autonomia de combustivel deste carro?
Olha, varia, já deu para quasi oitocentos quilómetros e já deu para pouco mais de quinhentos. Leonor! Faltam-nos para aí duzentos e estamos quasi na reserva! Merda! E agora?
Oh Helder agora reduz essa gaita para as duas mil rotações senão ficamos na estrada.
Oh pá, a cem levamos mais de duas horas e temos quarenta minutos para lá chegar a tempo do embarque e ainda temos de abastecer.
Helder, escolhe: ou não chegas – tens de esperar que apareça um gajo que dê combustivel ou reboque; ou talvez chegues e esperes pelo “convoi “ do fim da semana.

O que são duas horas na vida de um «convoi»?

CHEGÁMOS!!!  FAZER ESPERAR É UMA VIRTUDE!

A AVENTURA SEGUE – Parte o «convoi» faz as habituais paragens nos sitios certos e a chegada a LA GOUIRA aprazada para a noite, pelo que não há pressa.

Quem conhece estas paragens – o chamado SAHARA ESPANHOL, renhidamente disputado por Marrocos, Mauritania e Frente Polisário – fica agradàvelmente surprendido. A hipotética pista do ano passado que às vezes se encontrava no intervalo dos desatascansos dos bólides anti-diluvianos, foi substituida pelo «goudron».
                                                                                                         
E lá estava o imenso hotel aguardando-nos para essa noite. Todo o espaço delimitado por calhaus era nosso, a seguir à duna eram os toilettes (desculpem não haver água) mas em estrelas o firmamento tinha sido pródigo para este Hotel. Eram milhões e milhões a tremeluzir, lindas, perto, longe, parece que logo ali e cadentes a sugerir um desejo – Bissau, depressa! – A estrela-d’alva parecendo uma Berec que dura, dura e dura.

Como habitualmente bem recebidos pelo Tenente que chefia a guarnição do Forte Marroquino, enfrentámos umais uma noite tranquila em pleno deserto.

 Manhã cedo, acertar coordenadas no GPS, trocar conhecimentos com elementos de uma organização espanhola que se dirige ao Senegal com a oferta de duas viaturas NISSAN TERRANO II, e preparar para partir rumo à Mauritania.



LA GOUIRA/NOUADHIBOU

As autoridades decidem fazer a divisão do «convoi» em duas partes dado o grande número de veículos. Aquecer os motores e em marcha na primeira leva a uma velocidade bastante aceitável pois houve o cuidado de seleccionar os veículos mais rápidos.

O DESERTO MINADO

O Chefe decide: a Leonor precisa ir para o Range Rover acertar o GPS para o regresso,

 portanto, o Carlos co-piloto do Range (e do chefe) vai para o Musso da Leonor. A Rita (co-piloto do musso) decide ir para o Patrol fazer companhia ao Pedro. O Helder (co-piloto do Patrol) vai pilotar o Musso. Tudo bem… até que

Chegámos ao posto de fronteira de NOUADHIBOU; falta o Patrol e o Musso! Bom, vamos ter que esperar, entretanto aproveita-se a torneira de água fresca (em pleno deserto) e come-se qualquer coisa (pão marroquino e atum ou atum e pão marroquino; há latas da FRAMI mas estão frias e não vai haver tempo para cerimónias).

Tanto tempo! Olha o comboio das não sei quantas carruagens de minério, outras de combustível, duas máquinas de tracção e uma de travagem


e não sei que mais mas que o torna uma centopeia barulhenta que leva um bom quarto de hora a passar.

VEM LÁ O PATROL!
Viram o Musso? … Nós atrasámo-nos porque tivémos que parar, entretanto o Musso ultrapassou-nos e nunca mais o vimos, pensámos que estavam já aqui todos à nossa espera.

O Chefe decide tratar das formalidades com as autoridades para adiantar a entrada na Mauritania. A opinião dos soldados Mauritanos é tendente a tranquilizar-nos; - não se ouviu ainda nenhuma explosão, portanto ainda não lhes aconteceu nada e se eles só se atrasaram são encontrados pela segunda metade do «convoi». Mais, não passaram o controle rumo de novo ao deserto, pois os respectivos passaportes estão ainda em poder do soldado que nos acompanhou e ninguém passa sem receber o passaporte.

Tranquilizemo-nos com estas informações, aqui a autoridade é infalível.

Oh! Malta! Os gajos Espanhois dos Terranos estão a voltar para trás; o que se terá passado? Vamos cuscar!

SIMPLES! Esqueceram-se de ir buscar os passaportes!!!!
                                                                                              
ENTRETANTO:

O Musso e o Helder realizam que se perderam. Assim, combina-se com os companheiros de aventura Carlos e Linda assinalarem o trajecto e voltarem para trás.

Neste meio tempo o Helder anuncia ir procurar uma rocha semelhante à que o Amândio encontrou em Marrocos (mas promete não lhe pôr a carteira em cima). A História não chega a contar se os intentos foram conseguidos; desconhece-se se a descoberta imediata de um objecto não definitivamente identificado, mas igualzinho a uma mina enterrada na areia e destapado  pelo vento, foi antes ou posteriormente a ter encontrado a  tal rocha.

Nota do autor: meses passados o Helder confidenciou que ignora se a descoberta teve influência no rápido alívio dos seus pobres intestinos.

O Helder deixou Tshirts (que no regresso não encontrámos) e garrafas vasias (essas sim estavam onde tinham sido deixadas) para assinalar o percurso e, em marcha-atrás, pisando religiosamente o rodado anterior voltou até encontrar as pistas que nunca deveria ter perdido de vista.

O Helder não ganhou para o susto e jurou a si próprio nunca mais na vida querer ter uma dor de barriga;

O Carlos começou a sentir que o «soutien» lhe estava a ficar um pouco apertado;
A Linda, convencida de que o Helder tinha visto um lagarto, teve um faniquito

FINALMENTE JUNTOS e lá vamos rumo a NOUADHIBOU e a novas formalidades
                                                          
EIS A MAURITANIA!

A primeira imagem… muita muita lata a formar um indescritivel aglomerado populacional miserável. Bandos de crianças barulhentas e sujas a apedrejar violenta e convictamente as nossas viaturas.
Parece que sentimos saudades dos bandos de crianças marroquinas «muito chatas» mas amistosas, sempre com um sorriso e a mão estendida para «un souvenir, um dirham, un cadeau».

  
Novamente a «gendarmerie» e a «douane»; fazer seguros, comprar ouguiyas e policias ouvir uma prelecção do chefe local com muitas recomendações sobre guias e impostores,
PARA NOS TRANQUILIZAR
-          a garantia de que « o governo da Mauritania » tinha os olhos em nós e que seriamos imediatamente socorridos (?) ou encontrados se tal fosse considerado necessário;
-          a afirmação de que « em terras mauritanas, eramos filhos da Mauritania».

Hoje podemos dizer que acreditamos ter sido filhos dilectos da Mauritania pois, como adiante descreveremos, só fugindo podemos regressar a Portugal. Pelos nossos Passaportes ainda agora lá permanecemos.
                                                                                                         
A “ESTRADA MARITIMA” DA MAURITANIA, SEUS CAHYOUS, BARCOS, CORDAS, CORVINAS E CHACAIS

NOUADHIBOU / NOUAKCHOTT

Formalidades cumpridas, contratado um guia local, consultada a carta das marés voltamos à estrada, quer dizer à areia e às dunas rumo à capital da Mauritania.

Há que ultrapassar ainda de dia as conhecidas traiçoeiras areias de Nouhangar, para estarmos junto ao mar na próxima maré baixa das 04,00 horas.



Trajecto muito duro em que o Musso foi o primeiro a reclamar, mas todos lá se atascaram sucessivamente não havendo heróis a registar.






Objectivo cumprido, paragem para comer e dormir um pouco porque a próxima etapa vai ser de dureza quase extrema. Uma cabana aguarda-nos e os seus ocupantes, simpáticos ratinhos equilibristas e homens de negócios que nos oferecem chá dão-nos conselhos e se precisarmos de combustivel têm prazer em nos ajudar (ao dobro do preço local).



Partimos madrugada bem negra ao chamamento do nosso guia. Está maré baixa e temos três horas para fazermos cerca de 280 quilómetros pela faixa de areia deixada a descoberto pelo mar. O breu é tão compacto que temos a ilusão de escorregar dentro de uma manga E SE ESTA É A MARÉ BAIXA, como será a outra?

Medos para o lado! YHUPI! ISTO É O MAXIMO! Grita a Rita a cada salto que o Musso dá nas reentranseas que o mar deixou ao baixar. ATENÇÃO! DESVIA-TE OLHA UM BARCO! Estes gajos são doidos fazem-nos ir para dentro de água! CUIDADO! Acelera antes que a água faça levantar essa corda. Quando isto é mais largo os gajos põem as pirogas mais dentro mas lixam-nos com as cordas com que as prendem. Imagina só que a corda se enrola no nosso rodado ou nos apanha pelo pára-brisas!


Rolar em duas rodas é giro mas como é que a malta se safa se fizer capotanço?

É quase manhã, o mar tem uma cor espantosa, os cãezinhos (chacais) à beira da água esperam as enormes corvinas que vêm morrer à praia para entre si disputarem o melhor bocado. 
É caso para utilizar o dito popular “MALDITA CORVINA!”




NOUAKCHOTT  à vista!  Vamos ter que ENTRAR NA AREIA SECA, atenção: BAIXAS, 3ª.A FUNDO! Acelerar! Vira rápido, sai para o molhado que assim não vai! CURVA LARGO E ENTRA DE NOVO fora do rodado anterior. SAIAM DA FRENTE! … Esta gaita não se segura! CUIDADO! O belo do guia parece que praticava artes marciais e só isso e um duplo salto mortal o salvou de apanhar com o Musso em cheio.  JA PASSOU!

Manhã cedo em NOUAKCHOTT, vamos ao mercado comprar moeda, abastecer as viaturas e seguir rumo a BIRETTE e entrar no SENEGAL

BIRETTE – ROSSO   -  Não vamos esperar até às 15 horas pelo  barco vamos  para DJAMA. 

Se o dia correr bem vamos dormir no Hotel em DAKAR.   TODO O MUNDO ESTA DE ACORDO.

Belo banho, jantar, dormir.  AMENDOAS !  HOJE FOI SEXTA-FEIRA SANTA!

Pois… os deuses assim não deixaram

A SAGA CONTINUA,  não há nada de relevante para além das já habituais fastidiosas formalidades em todas as localidades e fora delas.

Policias, alguns fardados em chinelos, outros quasi, outros só em chinelos. Fazem-nos parar, pedem os passaportes, escrevem papeis sujos que tratam como documentos de estado, carimbam os passaportes às vezes, fazem perguntas desinteressadas e estupidas e quando entendem dão os formalidades por terminadas e mandam-nos embora não sem que tenhamos primeiro pago as suas “horas extraordinárias” porque o fim de semana Islâmico começa à quinta-feira.

Às vezes estão sentados a mesas velhas, outros deitados em tarimbas sujas metidas em cabanas de barro. Querem qualquer coisa, mas preferencialmente PANADOL ou ASPIRINA e BIERE.

Na estrada querem dinheiro! Multas e mais multas de que não é passado qualquer documento e, ou paga, ou fica ali o carro apreendido. Se refila, para além de pagar a multa por excesso de velocidade (não há qualquer aparelho de controle) e por conduzir sem cinto de segurança (?) paga também por conduzir de tronco nu (eles próprios andam sumária e quasi andrajosamente vestidos).

OBJECTIVO: GAMBIA travessia de barco para BANJUL

No último controle policial em BARRA, sob um calor mortífero um enxame de moscas e outro de pessoas de todos os tamanhos a pedinchar ou a tentar pilhar seja o que fôr (até as garrafas de plástico servem para assanhadas disputas) depois de uma chamada ao sentimento do chefe DEMBO JAITCH pela afrontosa inspecção ao conteúdo do Musso não escapando as roupas interiores da condutora e a teatral indignação desta, foi dada ordem de marcha sem revistar mais nenhum carro, com a indicação de que teríamos sòmente meia hora para o último barco desse dia para BANJUL que sairia às 20 horas

Engano nosso. O Musso abre a toda a velocidade para comprar os bilhetes. Um polícia, devidamente fardado, manda parar. O Musso está apreendido! – o tal já célebre excesso de velocidade medido a olhómetro!  Barco? Qual barco? O último barco tinha sido às 19 horas e deixado duas camionetes por não ter mais espaço.
                                              
Muito bem pessoal do Musso, não ha multas para ninguém; se o Musso está apreendido a tripulação vai junto. Portanto, Senhor Policia faça favor de arranjar jantar e dormida para três senhoras além de local seguro para parquear a viatura.

Remédio santo! Não se falou mais em velocidades, documentos ou aprensões. 

Num local que poderiamos baptizar como “o cais dos malfeitores”, alertados pelo dito Senhor Policia do risco de sermos roubados, jantámos “em familia” com fotografias para a posteridade e tudo e “não” dormimos dentro dos jeeps até ao nascer do dia e do novo barco.
                                                                                                                     

Da passagem do Senegal retivemos as crianças e os embondeiros

UM ALERTA

Novamente a nossa Linda voltou ao faniquito! Como em Lisboa não de quiz separar da sua ‘carrada de aneis’, escondeu-os tão bem que teve certa dificuldade em encontrá-los.

Dois dos nossos companheiros e duas senhoras aceitaram dormida no “auberge” local, semelhante a um capoeiro quer em cheiro quer em comodidade. Foi o Senhor Policia conduzi-los pessoalmente para ter a certeza da sua segurança e na sua presença foi combinado o preço do alojamento.

Para nossa surpresa na manhã seguinte o preço tinha dobrado. O estalajadeiro da noite anterior tinha sido substituido pelo filho que não sabia de nada. O Senhor Policia já não estava de serviço e, ou pagávamos o que nos era exigido, ou os carros já não embarcavam.

É habitual este tipo de saque de que a policia tem conhecimento mas palavra contra palavra prevalece a das gentes locais. SOLUÇÃO: Ao contratar seja o que fôr pagar de imediato e exigir um recibo. Será que resulta?



A ALMEJADA CHEGADA A GUINÉ-BISSAU

Um dia comprido com uma temperatura mais amena, travessias em jangadas mas já com um pouco do acolhimento português. A sacramental pergunta: SÃO PORTUGUESES E VÊM NUM RALLY?



Muita estrada, ou do que dela resta, muitos buracos, um camião virado, vacas, burros e miudos pelo meio dos carros, muitos cajueiros carregados de fruto desconhecidos para a maioria de nós, mangas, floresta e formigueiros.





A Guiné é bonita e as suas gentes menos feias.

BISSAU: Uma cidade que se adivinha ter sido próspera pelo que dela resta. O que vimos foram casas degradadas, ruas esburacadas, sem electricidade, abafada pelo cheiro do gasóleo e do masute e pelo barulho cansativo dos geradores.



Surprendidos pelo acolhimento de um português “amigo” do jornalista Paulo Brito jantámos uma bela grelhada facturada ao preço da Europa e dormimos razoàvelmente num hotel que o “mesmo amigo” nos arranjou. Não foi mau!

OBJECTIVO ATINGIDO

FIM DA PRIMEIRA PARTE









BALANÇO DA PRIMEIRA PARTE


A viagem decorreu sem incidentes. Houve entre todos espirito de equipa, de cooperação e ajuda como é lema dos praticantes do TODO-O-TERRENO.

Cumpriu-se razoàvelmente o plano de viagem traçado e o ligeiro atraso registado não é irrecuperável.

Depois do jantar gerou-se descontentamento e opiniões controversas de uma equipa que não deve ter entendido que a EXPEDIÇÃO não era um passeio turistico nem uma viagem para negócios. Era sim, uma forma abnegada de ajudar o próximo.

O chefe estabelece o programa para a manhã seguinte que se considera o momento MAXIMO da EXPEDIÇÃO. A concretização da AJUDA HUMANITÁRIA com a entrega das dádivas às IRMÃS FRANCISCANAS HOSPITALEIRAS em ANTULA.

Esta estranha maneira de passar férias, conduzindo viaturas 4x4 carregadas para além do imaginário, por montes, vales, na areia e na água, sacrificando comodidades e hábitos de higiene e descanso, com herculeo esforço físico e financeiro, só pode ter como retribuição a felicidade do dever cumprido.

DEVER CUMPRIDO? SIM! 

Todos nós, os mais afortunados que vivemos neste lindo cantinho da Europa, não poderemos ter a veleidade de querer acabar com a fome no mundo, podemos sim ser gratificados pela alegria de quatro espantosas mulherer e um punhado de crianças  negras.

CHEGADA A ANTULA

Não tocam trombetas! Não há sinos em cantochão! Há sim muitos garotos de vários tamanhos a gritar “ IRMÃS, IRMÃS, CHEGOU O RALLY”



AS IRMÃS LÁ ESTAVAM… HÁ UM ANO À NOSSA ESPERA!




À FRENTE DE TODAS – a mais ladina – A IRMÃ ROSARIA MARIA. A seu lado AS IRMÃS CLAUDINA, MARGARIDA E ADELAIDE.

BRAVAS MULHERES QUE, NA SUA DEVOÇÃO, CONSEGUIRAM ENCONTRAR UM RUMO DE TOTAL HUMANIDADE E ENTREGA AO SEU SEMELHANTE. IRMÃS ANÓNIMAS E NA SOMBRA, EM NADA DESMERECENDO O EXEMPLO DE TERESA DE CALCUTÁ

Vencida a primeira comoção, muitos abraços e a felicidade de – imaginem – distribuir rebuçados por toda aquela miudagem. O que seria aquela coisa doce? E o papelinho tão lindo para brincar? Os portugueses do rally são amigos! 

O Senhor Eugénio da LUSITECA que há muitos anos faz pastilhas GORILA não será capaz de imaginar a felicidade que nos fez levar a estes miudos.

Seguiu-se um simples mas delicioso pequeno-almoço; pudemos saborear os frutos tropicais lá do quintal, acabados de colher, as geleias preparadas pelas prestimosas Irmãs, e um cafèzinho mesmo instantâneo mas que quasi nos pareceu “expresso”.

No dispensário a inconformada Irmã ADELAIDE fez questão de tartar umas bolhas que o calor e os atolansos tinham provocado nos pobres pés da LEONOR.

Fotografias para a posteridade e conhecer uma realidade quase inacreditável. Estas admiráveis mulheres, de uma extrema abnegação e espirito de sacrificio, conseguem alfabetizar uma pequena multidão (para mais de trezentas crianças) pràticamente sem nada. Debaixo de um cajueiro também se consegue dar escola; basta uma folhinha de papel e um bocadinho de um lápis, que no fim da aula são recolhidos para servir no dia seguinte.

Para além da escola há a enfermagem. O pequeno dispensário, quasi sem nada, está cheio com a tenacidade da Irmã ADELAIDE que não se dá por vencida. 

Com orgulho a Irmã ROSARIA MARIA conta : Visitamos as nossas Tabancas e damos assistência materno-infantil. Todo o nosso trabalho é precário e condicionado ao pouco que temos. Conseguimos fazer um furo para água potável que já foi uma obra notável. Sentimo-nos realizadas quando numa visita de membros do Governo ouvimos uma afirmação do género «nós somos das Irmãs, não queremos saber de politica».

AS IRMÃS DE ANTULA … E AS OUTRAS

Transmitimos à Irmã ROSARIA MARIA que na barcaça de João Landim, à chegada à Guiné, travámos conhecimento com a Irmã ELENA (Italiana) das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo que nos falou da sua extrema necessidade de medicamentos infantis. Sugerimos que dividisse um pouco do que nós levávamos.

FALTA DE TUDO …

Ficámos assim a saber que o Hospital de Bissau, em avançado estado de degradação, não dispõe sequer de alcocol, algodão ou desinfectantes. As Irmãs quando precisam de assistir qualquer doente mais grave ou um parto têm que arranjar e levar tudo o que necessitam. 

Pudera o nosso grupo seguir as parábolas da Biblia e fazer a duplicação da carga que leváramos!

Despedidas, uma pequena lágrima já de saudade por aquele pedaço de dia tão diferente. A promessa de escrever e, quem sabe, talvez um dia VOLTAR!


2ª PARTE

                                                                                                                   
CORAGEM PARA O REGRESSO

BISSAU pouco mais tem que vêr. 

O Chefe ocupa-se em encontrar um Banco que tenha sistema VISA para levantamento de dinheiro. Curiosamente ou não, pois é África, há Bancos ou funcionários bancários que nem sabem o que isso é. 

Finalmente, um Banco que tem por accionista o CREDITO PREDIAL PORTUGUÊS, usando ainda as antigas “máquinas de passar a ferro” fez a operação de levantamento de escudos, mandando-nos de seguida ao cambista do fundo da rua para adquirir outras moedas (pesos e francos francesas).

Depósitos cheios, compras concluidas e despedidas feitas, é hora de partirmos.


OS DISSIDENTES

Com muita tristeza, embora já dado como certo, o regresso do Carlos Rodrigues iria ser por avião já com viagem marcada para quarta-feira. Depois do incidente do Musso perdido nas areias da terra de ninguém, a chegada a Bissau e a desilução de revêr destruida a terra que tanto recordava dos seus tempos de tropa, foram demais para o seu coração. Ainda não tinha conseguido aliviar o “aperto de soutien” e não queria de maneira nenhuma comprometer a sua vida ou o nosso regresso tranquilo.

Adeus querido companheiro, - … até Portugal.  Sentimos já a falta da sua ternurinha, daquela palavra de encorajamento ou de contemporização já tão pouco usadas nos nossos tempos.

O Jorge Prado, segundo disse, incumbido pela cara-metade de comprar “arte africana” preferiu embarcar o jipe  e regressar de avião, aproveitando para conhecer mais profundamente a  Guiné-Bissau.  Adeus também “velho” companheiro destas andanças, a falta do teu “portismo” vai sentir-se nos próximos atolanços, mas vamos ver-nos em breve “INCH ALLAH”.

O seu contestatário companheiro de viagem, que já por mais de uma vez tinha contradito as directrizes do chefe da expedição, desafiando abertamente a sua autoridade, decidiu também regressar pelos seus meios. PAULO! Apetecia-me chamar-te um nome feio, ou dar-te um beliscão, ou as duas coisas! Não foi assim que eu te vi quando falámos ao telefone. Segue com a tua reportagem e… bom sucesso!

Contrariados pelas dissidências metemo-nos à estrada. Mais tarde haviamosde nos sentir confortados em pensarmos que os nossos companheiros, já em Portugal, estavam livres das atribulações que estavamos vive

AS MESMAS DIFICULDADES E OUTRAS

Dos inicialmente previstos seis jeeps eantes, estávamos reduzidos a três viaturas e seis participantes.

Todos sentíamos a aprensão do regresso e a responsabilidade de nos entre-ajudarmos para conseguirmos vencer o desafio que já se antevia dificil pela vivência da ida.

Percebiamos agora o porquê de não termos conhecimento de alguém jamais ter empreendido o caminho de regresso terrestre.

O CHEFE DÁ ORDEM DE MARCHA

O sol começa a tombar; hora ideal para vencer quilómetros, fazendo beneficiar os nossos sacrificados motores e corpos. Ainda há estrada de alcatrão e vamos ter de chegar à noite ao embarcadouro de BARRA

Vamos apertar o andamento pois temos as barcaças de BISSORA em S. VICENTE e S.DOMINGOS no rio CACHEU que param ao escurecer.

Bom andamento, um engano num cruzamento traiçoeiro, uma viragem para a direita e aí está um desvio da rota. O GPS mostra que voltámos à direcção correcta e, pela carta da região o chefe conclui que vai atravessar o rio CACHEU mais acima mas vai conseguir chegar a ZIGUINCHOR sem voltar para trás.

A negra noite africana cerrou sobre os nossos jeeps e as nossas cabeças. Estamos embrenhados em plena selva tropical com o respectivo calor mole e abafadiço. A estrada há muito que acabou, temos um trilho onde podemos seguir em fila comendo o fino pó que o da frente levanta e nos tira totalmente a visibilidade.

Perigo, perigo constante, o trilho não é a direito e conseguimos vislumbrar as árvores quando quase já não dá para fugir. Não é possível continuar assim; vamo-nos separar do
Carro da frente e dar distância suficiente para fugirmos à poeira.

À frente vai o PATROL com o Pedro e o Helder, pois, sem ar condicionada, não aguentariam de outra forma; seguimos no MUSSO a Leonor e a Rita e a fechar o RANGE ROVER com o chefe e a Linda.

Leonor! Atenção! Vai aí um burro e gente! OK, Rita, já vi!

A Leonor pensa “ que se lixe o burro, isto mete mais medo que um susto! Somos seis gatos pingados, não sabemos onde estamos, desarmados, se estes gajos nos preparam uma emboscada, estamos fritos”  -  que se lixe, prego a fundo e fé na máquina!

Atrás o Chefe não diz (senão a Linda tem outro faniquito) mas pensa: que terá dado naquela? Com o espalhafato que fez espantou o burro. Diz a Linda: Oh Amandio olha o burrinho tão giro parece que se assustou com o carro da Nôr!

Espantou sim e de que maneira… iniciou tal cavalgada que atirou com um homem pela ribanceira lateral. Mesmo assim deu para o RANGE passar.

E o chefe pensa… esta gente é pacifica (?!) uma emboscada aqui era uma gaita! Ainda bem que ninguém pensou nisso e vão a andar bem!

A Leonor pensa… ainda não foi desta que saiu a emboscada! Estes fulanos nem pensaram ainda nisso!

Leonor!!!  Olha um sinal de luz aí à frente, parece o PATROL parado na berma esquerda, o que terá acontecido? Rita mantem-te calma, não é nada, não é nada… Poça aí está ela, agora é que é! Isto não estava no calendário.

Já passou, …fogo!

Oh Helder, está tudo bem com vocês? Oh Leonor então não viste os sinais da lanterna para parares? Tens um abismo por baixo desses troncos soltos e a velocidade que trazias podia ter sido um suicidio.

Entretanto, o chefe que se tinha aproximado da ponte improvisada, vê os toros aos saltos pela passagem do MUSSO, apercebe-se do abismo e do caudal de água e suspende a respiração até concluir que também ainda vai conseguir passar.

A Leonor não compreendeu sinal nenhum, só quis ultrapassar a tão esperada emboscada.

Finalmente ZIGUINCHOR e caminho já conhecido, a seguir BIGOGNA e talvez se consiga chegar au embarcadouro de ROSSO para passarmos no primeiro barco da manhã.

Novo posto de fronteira, paragem obrigatória. Estacionem as viaturas, não poderão seguir antes do alvorecer. Há guerra em CASAMANCE, podem ouvir daqui o tiroteio que só pára de manhã.

Sorte a nossa! A guerra tem horário de expediente (será que foi nesta que o Solnado se inspirou?) e fecha antes do alvorecer.

Acabou por hoje, vamos comer e tirar uma soneca para amanhã estar em forma para recuperar o atraso.

As árvores deram-nos guarida, os passarinhos acordaram-nos no momento exacto para lavarmos os olhos com água SERRA DA ESTRELA, fingirmos um lauto pequeno-almoço (por acaso ainda havia restos de formas PANRIKO) e … estrada, rumo a DAKAR.

O alvorecer deixa adivinhar um belo dia ensolarado, a temperatura é amena e vamos aproveitar para o bronze -  janelas abertas que a poeira ficou para trás!   Mentira! Com uma frequência desesperante a estrada desaparece, desvio à esquerda, cuidado, vamos a atravessar uma tabanca e se as moscas não nos preocupam, já não podemos dizer o mesmo das vacas, das ovelhas, das cabras, dos miudos e do abutre que voando baixo se veio suicidar no guarda-lamas do Musso. Pobre abutre! Só vinha espreitar se os nossos cadáveres já o eram!

E assim deixamos para trás BANJUL; as formalidades em SELETI e BARRA (desta vês sem paragem); KAOLAC e, já noite, finalmente DAKAR. O mesmo MOTEL da ida só que, agora, já sem o mesmo entusiasmo.

O RANGE-ROVER está a dar problemas de carburação, vamos chegar ao próximo posto de abastecimento e meter-lhe aditivo na gasolina a vêr se se resolve.

Bom, não vai mesmo; PEDRO vamos passar uma corda e rebocá-lo.

Combustível, aditivo, nada resulta, o motor não tem alimentação suficiente para trabalhar.  Carros a gasolina – proibido irem tão longe!

 Deixando ST.LOUIS para trás nova fronteira e nova travessia em Rosso, por barcaça barcaça. Vamos ter de esperar cerca de duas horas, não se pode pensar em comer pois que uma vez mais “os putos” são mais que as moscas e é necessário olho vivo contra a pilhagem. O calor fez---se sufocante, vamos molhar o pèzinho na mesma água onde “elas lavam (?) a roupa, eles lavam os burros, outros tomam banho”;   na  margem toda a sorte de detritos.

Eis senão quando surge “um MACGUIVER” muito prestável e levantando-nos muita suspeição. Tranquiliza-nos informando não ser senegalez mas funcionário de? ao serviço da reconstrução das estradas. Ficamos ansiosos vendo o Chefe, o Helder, o Range e o dito irem embora.

Voltam antes da hora do embarque, o MacGuiver desmontou a bomba da gasolina mas não adiantou. O problema parece ser do automático da ignição electrónica e essa reparação só num concessionário Rover.      Alvissaras! Há um concessionário em NOUAKCHOTT. Vamos conseguir chegar lá esta noite?

PEDRO, TIRA A CORDA! Este gajo tem que andar nem que seja a motor de arranque! A entrada para a barcaça é dificil vamos fazê-lo ficar de frente para a saída, depois dele estar lá dentro, que se lixe, sai à corda ou sai a murro, mas sai! Lindo! Lindo! Vai, devagarinho em primeira, isso! Vai! Vai! Cá dentro já cá estamos! Huff!

Não há dúvida, o que entra – sai! Já cá estamos e agora à corda… rumo à fronteira do Senegal



e logo depois para a capital da MAURITÃNIA:

O que parecia simples foi muito duro, cerca de 300 quilómetros à corda, de noite, numa estrada estreita, com obras, muito movimento em sentido contrário que não se desvia minimamente, os mínimos do PATROL, os stops do PATROL, os esticões na corda, as saídas de estrada, outra vez os stops e os esticões.

NOUAKCHOTT, MAURITANIA, MEIA-NOITE DO DIA 2 DE ABRIL.

Finalmente chegámos à porta da oficina do suposto concessionário RANGE-ROVER.

Tinha ficado para trás a paranoia das emboscadas; como o Homem, que neste caso é mulher, é um ser de paranoias teria que surgir uma outra.

Na Mauritania as viaturas “das gentes importantes” não têm chapas de matrícula. Tinha-se manifestado um sério assédio de ofertas para compra do MUSSO. Neste local a primeira abordagem é feita por um Mauritano grande, bem posto, conduzindo um MERCEDES 500 novo. Depois da óbvia recusa, minutos volvidos, nova oferta é feita por outro indivíduo igualmente bem posto conduzindo um GRAND-CHEROKEE novo, seguido do anterior MERCEDES ambos sem matrícula.

Aí está a LEONOR aflita! Oh Chefe não vamos passar aqui a noite! Esas gajos estão-se a preparar para nos sacar o carro.

O Chefe é tranquilo! Não podemos sair daqui, temos que estar cá quando abrirem de manhã, nem podemos deixar aqui o carro nem vamos continuar a andar com ele à corda pela cidade além do que já é tão tarde que não se justifica ir para um hotel.

Carros de traseira contra a parede, vamos comer e passar pelas brasas que o dia foi longo. A noite ainda o foi mais pois no MUSSO não se dormiu e parece que o Helder também não.

Já é dia, a que horas é que estes gajos abrirão? Parece que já lá anda gente dentro!

FALTA DE INFORMAÇÃO E ERROS DE INFORMAÇÃO
-          Não há concessionário ROVER; agora é RENAULT

Mas o técnico abriu uma oficina por conta própria numa ruela próxima. RANGE-ROVER à corda e lá vamos todos em fila em busca de “Prestes João”

-          Mentira! Os Bancos também aqui não sabem o que são cartões Visa não têm o cambio do Escudo nem de Dirhams e… não há nada a fazer.

O Patrol com o Pedro e a Leonor viraram todos os Bancos, recebidos com muitos salamaleques por Mauritanos (eles e elas) bem trajados e ar próspero em contraste com o que se via nas ruas.

Bom, os Francos do Pedro vão ter que chegar até Marrocos; também não falta muito e lá “estamos em casa”. Em NOUADIBOU há possibilidade de vender os jerricans, a grade e os pneus suplementares do RANGE para obter OUGHIAS, havemos de nos safar. 

Rápido! Vamos voltar à Oficina e ao bendito RANGE-ROVER, aguardando encontrar boas notícias.

NÃO PODIAM SER PIORES -  O RANGE NÃO TEM SOLUÇÃO!  NÃO HÁ PEÇAS E O ELECTRONICO DA IGNIÇÃO ESTÁ IRRECUPERÁVEL.

Carro à corda e segue a procissão para a EMBAIXADA DE FRANÇA.

Muita compreensão, muito apoio, muito estímulo – ONT PEUT RIEN FAIRE! Devem dirigir-se à EMBAIXADA DE ESPANHA que vos PODERÁ ajudar.

O DESALENTO É TOTAL! A esperança de poder seguir normalmente viagem começa a faltar, o tempo que nos resta já não dá para o regresso ao trabalho na data marcada; hoje são 3 de Abril e a chegada estava prevista para 6. As nossas famílias e colegas não sabem de nós desde BISSAU.    

NÃO DORMIMOS, NÃO COMEMOS E SÓ O CHEFE MANTEM PRESENÇA DE ESPIRITO E UMA CALMA APARENTE

Ajuntamento junto aos carros parados no passeio junto ao muro da Embaixada. A Leonor reage negativamente à presença de um MERCEDES 500 sem matrícula e à presença de um Mauritano bem vestido no seu traje tradidional.

GENTES E LUGARES

UM DIA DAS ARABIAS VERSOS DUAS NOITES DE PESADELO

A incrédula Leonor ouve o senhor Mauritano dirigir-se-lhe num português fluente “ estás com problemas? Não te rales que eu vou ajudar-vos! Sou o Comandante SYLLA, CONSUL DA MAURITANIA EM PORTUGAL.

Mentira! Não há relações diplomáticas entre Portugal e a Mauritania! Onde está a Embaixada de Portugal? Cuidado! É mais um para “comprar” o MUSSO.

Escuta, tenho escritório na DOCAPESCA e sou VICE-PRESIDENTE DO INSTITUTO LUSO-ARABE EM LISBOA.  Conheço pessoalmente o Presidente Mário Soares e tenho especial amisade com muitos portugueses. No passado houve gentes da Mauritania que foram para o sul da Europa e lá estabeleceram vida pelo que há Portugueses nossos irmãos.

Diz lá o que precisas! Vamos para minha casa, podes tomar um banho, mando fazer-vos um almoço, posso emprestar-vos o dinheiro que precisarem que depois pagam-me em Portugal quando eu lá fôr no próximo mês.

PRECISAMOS ESSENCIALMENTE DO RANGE REPARADO PARA SEGUIRMOS HOJE PARA NOUADIBOU.  – PRECISAMOS CHEGAR AO “BOUCHON”AMANHÃ.
Não há problema! A maré baixa para poderem seguir viagem é só às 23 horas. Vou arranjar-vos um guia que vos leva em segurança até Nouadibou.

Entretanto, repousam para fazerem uma viagem tranquila. Vamos mandar um fax ao meu SECRETARIO NA DOCAPESCA para ele via MINISTERIO DAS PESCAS CONTACTAR as vossas FAMILIAS E EMPREGOS a informar as razões do atraso da vossa viagem.

Vou mandar o RANGE para o meu mecânico que o vai reparar. Já tive um igual assistido por ele.

RANGE À CORDA e lá vamos nós para casa do Comandante SYLLA. Felizmente há fotografias e video para documentar esta situação das arábias… senão não daria para acreditar.

Uma espaçosa e luxuosa casa que nos pareceu mobilada num misto europeu-africano; várias salas, homens numas, mulheres e crianças noutras; amplos sofás com cortinados a condizer, espessas alcatifas  e a ausência de mesas. Sapatos deixados à porta.


O SENHOR YOUSSOUF TIJANI SYLLA
       

Um perfeito anfitrião, culto, exibindo os seus conhecimentos de história, dando-nos lição e conversando versatilmente sobre muitos assuntos num português quase perfeito.

Abastado chefe de numerosa família, respeitado, inteirou-nos da sua vida presente e passada, apresentou-nos a sua jovem, bonita e amável esposa, a sua filha de mãe portuguesa, e a sua filha preferida, a jovem Saliha.

É armador de barcos de pesca, além de lider de um partido político na sua terra.

Não há dúvida de que conhece bem Portugal.



E HOUVE O PROMETIDO BANHO

E HOUVE O FAX PARA LISBOA

E HOUVE UM LAUTO ALMOÇO

Pela primeira vez e talvez única nas nossas vidas, foi-nos servido sobre uma toalha colocada sobre o tapete no meio da sala um enorme prato com uma magnifica salada de gambas. Muita Coca-Cola e até havia talheres!
Seguiu-se uma fritada de peixes com batatas fritas e mais Coca-Cola.
Posteriormente ainda nos havia de ser servido um prato tipico, especialidade de uma empregada da casa, que ninguém percebeu o que era e de que ninguém gostou.
Havia também sido morto um carneiro que já não aceitámos.

OS MAURITANOS COMERAM NA SALA AO LADO

Já quase no final da nossa refeição entraram para a sala do lado cinco mauritanos dos bem vestidos que segundo o senhor SYLLA nos informou eram funcionários do Governo … e HOUVE  comeram do tal carneiro!

… E O CHEFE FOI AO MECANICO… E VOLTOU À CORDA! 

Conversámos, descansámos, filmámos tudo, tirámos fotografias, aguardámos a vinda do GUIA e a maré das 23 horas.

E TROCAMOS ESCUDOS POR OUGHIAS.

Deixado para trás o RANGE-ROVER à guarda do Comandante SYLLA que garantiu fazê-lo embarcar ràpidamente, atulhado com todo o equipamento de campismo, parte da reserva de alimentos e tanta coisa que tanta falta nos vez nos dificeis dias que nos esperavam isolados no deserto.
                                                                                 
PARTIDA

Manter a esperança, demonstrar calma e tranquilidade, criar um ambiente alegre e sadio. TODOS, mesmo todos, apelando à sua juventude, consolando-se mutuamente por termos tomado uma resolução e já estarmos de regresso ao nosso querido Portugal e aos braços dos nossos parentes e amigos nesta altura já informados da nossa odisseia e de que estamos bem PARTIMOS de NOUAKCHOTT rumo à «ESTRADA MARITIMA DA MAURITANIA».

O guia, parente do Comandante SYLLA pareceu-nos diligente; infelizmente só demasiado tarde nos apercebos do seu cansaço.

23 HORAS, como parece ser normal, uma noite tão negra que nos sentimos emparedados; à frente o MUSSO conduzido pelo CHEFE, o guia a seu lado, acompanhados pela LEONOR e pela LINDA. Segue o PATROL, conduzido pelo PEDRO acompanhado pelo HELDER e pela RITA.

CHEGÁMOS AO MAR! O Guia aconselha a seguirmos junto ao parque de campismo para nos fazermos ràpidamente à praia.

Droga! O MUSSO atascou. Grita o CHEFE -  SEGUE PEDRO, PÁRA SÓ EM TERRENO FIXE!     O PATROL atascou também.

Somos muito poucos para safarmos um jeep da areia atascado até às orelhas! O Guia de má vontade escava e dá ordens num francês execrável, como ele. A areia é completamente solta, escava-se mais metem-se tapetes, os chassis já estão assentes. O tempo passa e a maré não espera. Vamos ao parque de campismo pedir ajuda. Vários cães ladram enfurecidos – na MAURITANIA até os cães são agressivos!

O PEDRO SOLTOU O PATROL! A CORDA PARA PUXAR O MUSSO!  
VAI! VAI! VAI! HURRA! SAIU.

Areia molhada, mar a cobrir no seu fluxo a totalidade do areal. Será que já é maré baixa? O Guia diz Oui! O CHEFE tem dúvidas… consulta cartas, faz contas … deve ser; VAMOS A ISTO!

O CHEFE é um ALTO PILOTO só que a LEONOR está apavorada, este mar é ainda mais aterrador que o da ida, o mar “descarnou” os calhaus deixando cristas rochosas em número e tamanho inenarráveis. O mesmo mar alteroso continua a lamber a praia banhando os nossos jipes e tirando totalmente a visibilidade. NÃO HÁ TEMPO DE DECIDIR: SALTO A ROCHA OU ENTRO NO MAR? Qualquer das opções é medonha -  O PEDRO COMENTA: olha se tenho decidido saltar a rocha? Este também cá ficava!

O Guia dorme – A Leonor grita Eh, Monsieur ça va? 
O Guia acorda sobresaltado e responde: Oui, oui, tout droit! E volta a dormir! Abençoados 40 contos!
                                                                                 
AMANDIO, ADORMECESTE? Grita a Leonor. IAS MAR DENTRO!

E lá estavam de novo as barcaças e as cordas e as corvinas (pareceram ainda em maior quantidade do que à ida).

Será possível ser esta noite ainda mais negra que a de ida? VAMOS PROGREDIR RÁPIDO.

Neste momento tomamos consciência de que deveremos estar a meio do percurso e de que a hora da maré estava correcta. Em sentido contrário começa a surgir movimento. E que movimento! As benditas pick-ups avançam direitas a nós a uma velocidade que nos parece superior à nossa ( que oscila entre os 100/110), parecem bólides camicases que nos deixam sem respiração.  PARA QUE LADO VAMOS SAIR? O instinto dos nossos pilotos diz “direita”

CONSEGUIMOS!  MAIS UMA ETAPA SUPERADA!

Três longas horas que pareceram uma eternidade. O dia ainda tarda a nascer, vamos parar um pouco porque o Guia além de ter sono também não perdeu o apetite.

VAMOS AVANÇAR PARA NOUADHIBOU RAPIDAMENTE; HOJE SERÁ SÁBADO E TEMOS O “CONVOI” PARA LAGWIRA/DAHKLA.
                    TRISTE ILUSÃO!

De novo em andamento, agora o Guia passou para o PATROL e segue na frente.

Este Guia escolheu um caminho diferente daquele que utilizámos à ida. Mereceu o acordo unanime pois as dunas de Nouhangar da ida tinham sido dificeis de vencer mesmo com um maior número de elementos, de que presentemente não dispunhamos.

O Guia agora quase acordado, fala e gesticula mas no PATROL ninguém o entende;  O terreno é firme e de bom andamento  -  vamos lá esticar pela malta, pensa o Chefe. E se bem pensou melhor fez, e lá vai a ultrapassagem

O GUIA GRITA… GRITA, TARDE DEMAIS FOI ENTENDIDO!



O MUSSO ACABA DE ASSAPAR NO LODO DO LAGO SALGADO. Desânimo geral; POÇA, ISTO ESTAVA A IR TÃO BEM
Fotografias para a posteridade, CADA CABEÇA CADA SENTENÇA e eis que surge a LINDA em pânico “  O GUIA ESTÁ A DIZER QUE O CARRO SÓ SAI DE AVIÃO”
Esta notícia fez a LINDA ganhar alguns insultos e a ordem perentória de estar calada quando não soubesse o que estava a dizer. 

Desculpa LINDA, FOSTE O BODE ESPIATORIO da grande tenção em que todos estávamos!

O que a LINDA ouviu e não entendeu foi o furibundo GUIA já a sentir-se com as saias sujas de lodo e a pensar que não tinha sido pago para desatolar carros, dizer: “Não vão conseguir safar o carro e eu vou arranjar boleia para a cidade para apanhar o avião de regresso a casa.”

O Chefe decide agir: | Leonor!  Ao volante, marcha-atrás, baixas, pouco acelerador quando te for dito!

FORÇA, FORÇA TODOS, FORÇA, NÃO VAI! E ATÉ O GUIA DE SAIA ARREGAÇADA EMPURROU!

Há quem sugira que o PATROL com o Guia deveria seguir para NOUADHIBOU e pedir ajuda.

ALVIÇARAS! VEM UMA PICK-UP EM SENTIDO CONTRÁRIO!

O GUIA também a viu e prontamente avança a fazê-la parar. Parou, saiem quatro ‘individualidades’ mauritanas (?) impecáveis no seu tradicional traje branco, trocam os habituais salamaleques e avançam para avaliar a nossa situação.

Mostram-se muito cortezes, muito calmos sem a mínima intenção de se conspurcarem com o fétido lodo de que, nesta altura,  cada um de nós já tinha a sua conta.

Apontaram-nos areia solta na beira do lago, explicaram com muitos gestos de que deveriamos ir buscar uma boa porção e metê-la a fazer calço às rodas do jipe.. 

E lá vamos todos com sacos de plástico buscar areia! Mais e mais ainda. HELDER, pega aquela prancha que tens na grade para se meter debaixo a calçar. Pá NÃO vai ficar toda c…, como é que depois se leva? Não leva, Pá! E se vem a fazer falta? Mais do que agora não faz de certeza! Tá bem! VAMOS A ISTO.

LEONOR, vai para o volante do MUSSO, já sabes, marcha-atrás, baixas, pouco acelerador. PEDRO passa a corda. Avanças muito devagar para não dar esticões que podem partir a corda, nós empurramos todos.

FORÇA, TODOS, FORÇA ….  PÁRA PEDRO
Assim não dá! PEDRO vira o PATROL de frente para o MUSSO, em marcha-atrás tens mais força!

PÁ AGUENTA… NÃO AVANCES MAIS SENÃO ATOLAS!

Vamos engatar a corda e tentar de novo, AGORA VAI.

TODOS, FORÇA, VAI … VAI… VAI … FORÇA, JÁ ESTÁ!!!

Com a excitação nem percebemos que os “senhores mauritanos” tinham oferecido pão fresco ao GUIA que muito amável no-lo veio por sua vez oferecer. GENTILEZAS DO DESERTO.

OBRIGADO COMANDANTE SYLLA PELO GUIA QUE NOS ARRANJOU. DESFEZ-SE DE NÓS LOGO QUE ENTROU EM NOUADHIBOU. TAMBEM NÃO FICÁMOS COM SAUDADES DELE.

HAMID E O ALBERGUE JUVENIL SAHARA

Vamos respirar, perece termos chegado ao fim dos nossos tormentos!  ILUSÃO!

Vamos à procura daquele mauritano com o seu forte odor caracteristico da raça, vestido à colonial rico, com um francês fluente e que parece conhecer toda a gente. À ida o senhor SOULEIM foi-nos muito prestável. 

Alugou-nos por uma noite o que disse ser uma sua casa, com uma bela casa de banho europeia, uma cisterna subterrânia cheia de água fresca tirada a balde, e fartura de velas. Um quintal onde pudemos pôr o nosso fogão no chão e preparar o jantar e divisões completamente amplas para “acamparmos”. Parque interior para os carros…UM LUXO!
Levou-nos às autoridades, aos seguros e aos câmbios. Impecável!

No regresso nem o senhor SOULEIM se conseguiu arranjar!

O Senhor Presidente do Governo da Mauritânia estava de visita à região por causa das eleições e todas as individualidades tinham ido ao seu encontro só regressando daí a dois dias.

Solução: Ir ao camping procurar o Guia que nos tinha trazido do BOUCHON e que se tinha prontificado a esperar pelo nosso regresso (só que já tinha passado uma semana da data prevista).

Mais uma decepção. Não foi possível encontrá-lo. Entretanto outros se ofereceram, O Chefe tentou negociar, pediam desde o equivalente a 40 até 80 contos. Impensável! Estava todavia bem patente na memória do Chefe (e de todos) a prelecção sobre guias e aldrabões que o senhor chefe da polícia nos tinha feito à entrada na Mauritânia.

LIEUTENANT FAYÇAL E O APELO À CARTA DE ALFORRIA

Durante todas estas andanças e das formalidades policiais, a nossa LINDA não perdeu tempo e vá de destroçar o coração do ‘belo’ tenente da polícia local.

No dia seguinte lá iria estar ele de plantão à espera que fossemos buscar os nossos vistos para reafirmar o seu ‘grande amor e uma promessa de casamento selada com anel’

Será que a LINDA vai também cumprir a promessa de o receber de visita em Portugal para acertarem o casamento?

A SAGA CONTINUA SEM FIM Á VISTA

Vamos arranjar onde dormir e amanhã tentamos ir pelos nossos meios.

Alguém nos oferece duche quente, dormida, parque para os carros num albergue por cerca de 1.000 escudos/pessoa. Vamos vêr.

HAMID -  AQUI FICA O NOSSO TRIBUTO A TUA GENEROSIDADE E A DIVULGAÇÃO QUE TE PROMETEMOS.

                                                           ALBERGUE JUVENIL
                                                                       SAHARA

- SE SITUA A 500 M DEL CENTRO DE LA VILLA DE NOUADHIBOU (VER PLAN 
   AL DORSO)
-  DUCHA + AGUA CALIENTE; BANO;COCINA,TERAZA;GARAJE GRANDE   
    COMPUERTA DOBRE + GUARDIA
-  ASISTENCIA POR LA FORMALIDAD DE LA POLICIA; ADUANA; CAMBIO,
    ASURANS.
COLACION GRATUITA POR LA BIENVENIDA, ZRIG FRIO BEDUINO Y TE MAURITANO
-          UN EQUIPO PROFISIONAL Y DINAMICO, POR VUESTRO SERVICIO
-          TARIFA DEL ALBERGUE :  1000 UM */PERSONA
-          DESAYUNO : 150 UM/PERSONA

TEL: 45667 DEMANDAR A HAMID

* UM = OUGUIYA     100 PST = 112 UMS


Não reproduzimos a planta por impraticável mas todos nós sabemos ir ter contigo e facarás para sempre na nossa memória e coração.

BELOS BANHOS QUENTES, UMA LONGA NOITE TRANQUILA, UM BELO PEQUENO-ALMOÇO PREPARADO NA “COCINA” COM DIREITO A FOTOGRAFIAS E TUDO!



NÃO PREVIMOS PARA QUANTOS DIAS IRIAM DURAR ESTES BANHOS!

Conversas veladas deram para entender que iria ser dificil a saída da Mauritania. Para HAMID não conseguiriamos chegar a MARROCOS pelos nossos próprios meios, pois o único caminho seria através do CAMPO  MINADO.

Prontificou-se a receber os nossos escudos de que só nós sabiamos o câmbio, e a contratar um guia a quem pagaria depois de regresso. Melhor, explicando: O Chefe levaria uma folha de papel impresso do Albergue na qual, quando já a salvo, escreveria como tinha decorrido a viagem e o comportamento do GUIA. Só com esta carta o Guia receberia o seu pagamento.

Fazendo graça:  se o Guia não regressasse o HAMID ganhava mais uns escudos!

FORMALIDADES OFICIAIS CUMPRIDAS E LÁ VAMOS NÓS RUMO Á FRONTEIRA

A habitual espera, os funcionários semi despidos estiraçados em tarimbas, moles pelo calor, pouco entusiasmo mostraram em nos despachar. Conversa tembém mole do Chefe, umas HEINEKEN semi-moles (a arca frigorifica pifou) e lá se conclui que não podemos sair ‘sem uma autorização do chefe de alfândega’ por causa do carro que está averbado no Passaporte e que não está para sair.

O Chefe decide: LEONOR e LINDA, voltar a percorrer os 16 Kms de areia solta e ir obter a sobredita cuja autorização. Um dos funcionários quer acompanhar a viatura. Aí temos de novo a LEONOR em brasa; não chega o calor e as moscas e ainda por cima tenho que levar este gajo cheiroso!

É tempo de despachar e o MUSSO JÁ SABE O CAMINHO. PREGO A FUNDO E FÉ NA MAQUINA.

Não era de prevêr que esta actuação despertasse a admiração do zeloso funcionário que brindou a LEONOR com a exclamação de que era a primeira mulher CASCADEUR que via em carne e osso.

A espera junto ao barraco fronteiriço foi desesperante. Não menos o foi a tentativa de obter a tal autorização. Era sábado e o chefe não estava. Não estava também a simpatia feminina a quem na ida tinhamos oferecido perfumes. Esperámos e desesperámos!

APELO À AMI “SALVEM O MEU FILHO DA CEGUEIRA”

O MUSSO estava identificado com os patrocínios que tinham contribuido para tornar possível a AJUDA HUMANITARIA. Em destaque encontrava-se a AMI ASSISTENCIA MEDICA INTERNACIONAL, por mérito próprio pois os seus dirigentes haviam sido incansáveis em dar resposta aos nossos pedidos.

Renovamos aqui o nosso BEM HAJAM.

Enquanto esperamos, não sabendo bem quem nem por quanto tempo, um homem jovem dirige-se-nos respeitosamente e apontando para o auto-colante da AMI pergunta se é mesmo que a organização de médicos internacional. Após a nossa resposta afirmativa, com um francês dificil, tenta explicar que tem UM FILHO DE MESES que  NÃO VÊ porque tem uma capa a tapar-lhe o globo ocular.

Implora: SALVEM O MEU FILHO, levem-no para o vosso País que lá podem curá-lo. O médico diz que em Espanha há tratamento. Ajudem-me!

Nada pudemos fazer e nada prometemos, temos o contacto, é tudo.

MOHAMEDOU  ALMED  BABA
TEL:  46216
B.P.80 NOUADHIBOU – MAURITANIE

Seguidamente tentou ajudar-nos, falou com os colegas e fez com que o funcionário que tinha vindo da fronteira nos levasse às docas à procura do chefe. 

Mais um susto! Eram tantos, tão andrajosos, tão porcos e feios que até pareciam maus. Depois de um bom quarto de hora concluiu-se que o dito Chefe já não estava nas docas. Deveria ter ido para o Posto. Regressemos.

No caminho, uma vez mais, o nosso apaixonado FAYÇAL. Agora gostei de te vêr! Algumas perguntas, respostas dúbias mas deu para entender que não deveriamos declarar deixar o carro na Mauritania.

DECLARAÇÕES DE HONRA E TUDO

Aqui o leitor fica a saber que à entrada da Mauritânia somos obrigados a preencher a assinar uma DECLARAÇÃO DE HONRA em que nos comprometemos a não vender ou por qualquer outra forma deixar as nossas viaturas no território. E NINGUEM JÁ SE LEMBRAVA DISTO!

Senhor funcionário, está sendo muito tarde, portanto, como o chefe não volta, vamos para a fronteira e regressar a NOUAKCHOTT para buscar a viatura.

Nova corrida pelas areias moles e estamos de volta ao dito barraco fronteira.

CONFERENCIA COM O CHEFE E COM O GUIA – FIM DAS FORMALIDADADES. VAMOS REGRESSAR A NOUAKCHOTT.

OFICIALMENTE PELOS NOSSOS PASSAPORTES AINDA HOJE ESTAMOS NA MAURITANIA.

O CAMPO MINADO

O trajecto da fronteira para NOUAKCHOTT ou para o DESERTO MINADO era o mesmo durante cerca de 20 kms. Nessa altura, far-se-ia uma viragem radical no percurso fletindo para norte e entrando abertamente no deserto minado.

E ERA QUASE FIM DO DIA. O crepúsculo que se avizinhava anunciava para o dia seguinte um novo dia de sol e calor. Interiormente interrogamo-nos sem deixar transparecer qual poderá ser a resposta - SERÁ QUE AINDA VAMOS VER NASCER ESSE DIA?

O Guia reúne os dois condutores e dá instruções:

-          Os dois jIPES devem seguir muito perto um do outro. Não acender luzes ou sequer os stops, o segundo carro deve proceder exactamente como o da frente, seguindo religiosamente o mesmo rodado e à mesma velocidade. ATENÇÃO UM LIGEIRO DESVIO PODE QUERER DIZER O FIM DE TUDO.

-          Nas primeiras horas vamos atravessar deserto Mauritano e por vezes vamos ficar visiveis dos fortes e ao alcance das armas. Há que rolar VITE! Há ainda o risco de encontrarmos alguma patrulha, pelo que há que estar alerta para a ordem de PARAR.

-     Quando atravessarmos  a linha do comboio para norte ficamos em MARROCOS .
Mantem-se o perigo de sermos vistos agora pelos fortes e armas marroquinos.
E partir dessa altura o Guia corre sério risco pois se formos apanhados ele é preso por entrada ilegal no país.

Feito o ponto de situação – AÍ VAMOS NÓS EM PLENA AVENTURA. ESTÃO TODOS PROIBIDOS DE PENSAR!

VITE…VITE…  VITE…  TOUT DROIT A TOUTE VITESSE! 

ARRETÉ Á LA GAUCHE DE LA DUNE!           TOUT EST BIEN. ?  VITE…VITE…

E o HELDER desligou o fio dos stops do PATROL que ia atrás, e sem luzes, sem fumar, sem vêr sequer o caminho por onde seguiamos, lá fomos

UMA FÉ TOTAL NO NOSSO GUIA E AUSENCIA DE PENSAMENTO

Mais uma vez obrigado HAMID, o Guia de quem não retivémos o nome conhecia o percurso tão bem como as suas mãos; ele sabia onde estava uma rocha ou um buraco e penso que também sabia onde estavam as minas ou pelo menos onde não estavam! Bem mereceu a carta que o chefe lhe entregou.

O Guia ordena: Parem entre essas dunas. Vamos dormir aqui. REBELIÃO TOTAL!
NOS QUEREMOS CHEGAR ‘HOJE’ AO FORTE MARROQUINO. 

O Guia explica: Depois de anoitecer é muito arriscado aproximarem-se do forte. Ninguém pode entrar ou sair do forte depois de anoitecer, portanto, vamos comer e dormir. E ASSIM SE FEZ! Ninguém tinha fome, comeu-se desinteressadamente e enrolámo-nos para dormir depressa.

É MADRUGADA –  O GUIA DESPEDE-SE  - tem 17 quilómetros para fazer  a pé  até à Mauritânia .   Logo adiante é o ‘goudron’ que nos leva sãos e salvos à protecção de MARROCOS.

Sem mais sustos chegámos ao barraco fronteiriço marroquino que antecede o forte. Paragem, identificação e espera. Já lá está um carro grande da Mauritânia que chegou ‘a salto’ como nós e que nos parece cheio de contrabando. Os ocupantes, dois homens e três mulheres e um carneiro têm aspecto de abastança.

Uma vez mais a AMI chama as atenções; um dos mauritanos dirige-se ao Chefe – tem uma das mulheres doente a queixar-se com dores na barriga. Como se trata de uma mulher o Chefe manda a LEONOR e a LINDA vêr o que se passa.

A LINDA faz perguntas e a LEONOR traduz, a mulher responde e a LEONOR volta a traduzir. Conclusão imediata: nenhuma! Como o Melhoral é bom e não faz mal aí está a resposta e o conselho de ir ao hospital em Marrocos se continuar a ter dores.

Conclusão à posteriori: as damas tinham-se apaixonado pelo Chefe e a dita deveria estar à espera que ele lhe fosse apalpar a barriga. Convivemos mais alguns infortunados dias e não voltou a ser precisa a intervenção da LINDA ou da LEONOR, O CHEFE SIM FOI DESCARADAMENTE DISPUTADO PERANTE A VERGONHA DOS DOIS HOMENS DA FAMILIA.

O TEMPO DEIXOU DE TER SENTIDO

Algumas horas passadas e lá chegou a autorização para nos aproximarmos do forte.

Respiramos de alivio! Eis-nos de novo no tal hotel de mil estrelas. Passaportes entregues vai ser necessário aguardar autorização de RABAT para a entrada em Marrocos. DESESPERANTE!




Montar tendas, pensar em comer e dormir. O Tenente que chefia a guarnição do forte vem cumprimentar-nos, traz-nos pão marroquino, batatas e cebolas. Promete vir à noite seroar em pouco conosco:
…E à noite lá vem o simpátio Tenente acompanhado de um colega fardado mas de chinelos, este com ar abstracto e a informação de que tem uma depressão nervosa. O Chefe ‘faz aguada’ como os nossos antepassados, sò que a água tem sido transportada em latas verdes e chama-se HEINEKEN. Conclusão: o maior pifo que o nosso Tenente alguma vez apanhou ou irá apanhar. Não sabemos se por razões de serviço como nos foi dito, ou por outras, não o voltámos a vêr durante os três dias da nossa permanência forçada.

O Tenente doentinho tentou ser amável preocupando-se com o nosso estado de espírito. Foi ao ponto de perguntar ao Chefe o porquê da tristeza da LEONOR. Como lhe foi dito que era provocada pelas saudades do gato que tinha em Portugal, foram ambos convidados, o Chefe e a Leonor para irem ‘dentro do forte’ onde um gato e um nescafé os esperava. Uma simpatia que deve ter furado todas as normas de segurança.

Acabaríamos por só obter a autorização de entrada em MARROCOS e integrar o ‘convoi’ na terça-feira seguinte.

Foram muito duros estes dias de isolamento. O estarmos sós no meio do nada, na terra de ninguém, com carência de tudo o que faz o nosso habitat usual, pensando nos nossos familiares que não têm notícias nossas há uma semana e nos empregos onde alguns já deveriam estar de regresso.

Há que matar o tempo, inventar distrações
A LINDA VAI PARA A AREIA PROCURAR MOEDAS. E VAI-AS ACHANDO.

A LEONOR ENFIA-SE NO CARRO A LÊR

O HELDER RI-SE DA LEONOR POR ELA TER SAUDADES DO AMARELINHO.
(ainda havia Tshirts da TriStar /Lusiteca) para distribuir e para matar saudades a LEONOR na segunda manhã de cativeiro teve o HELDER amarelinho)

OS RESTANTES MONTAM A TENDA DA ROSA E ARMAM ‘CASINO’



O Chefe diz: Pessoal vamos matar o tempo. Estamos fartos de ração de lata, de pão e de atum, VAMOS FAZER UMA CALDEIRADA DE BACALHAU!

Explicando: A Expedição ia abastecida para a ida e para o regresso. Estava munida de lanternas, fogão, mantimentos incluindo bacalhau seco. Quase tudo ficou no RANGE na Mauritania.

Diz a LEONOR: O CHEFE ESTÁ LOUCO! ONDE É QUE FAZES O BACALHAU SECO.

O Chefe explica: TEMOS BACALHAU E AGUA DO FORTE, VOU DESFIA-LO E LAVÁ-LO PARA TIRAR O SAL. TEMOS KETCHUP, BATATAS E CEBOLAS. O RESTO VOU PEDIR AOS MAURITANOS.

Entretanto: OS MAURITANOS MATAVAM E COMIAM UM DOS COMPANHEIROS, O CARNEIRO. SORRIDENTES, AS MULHERES QUERIAM QUE O CHEFE DISSESSE DAS HOROROSAS QUAL ERA MENOS.

Foram incansáveis, emprestaram um fogão e uma panela prèviamente lavada por um deles com a areia do imenso toilette.

A CALDEIRADA ESTAVA DIVINAL E AINDA DEU PARA DIVIDIR COM

A FAMILIA  JEAN-LUC BERQUAND VERSUS GUIA  OULD BARRY

No dia seguinte à nossa chegada ao forte chegou uma auto-caravana de aspecto cansado transportando um casal e duas garotas de talvez cinco e sete anos aos quais a viagem e o cansaço emprestavam aspecto de saltibancos.

Mme. Elisabeth Stadler, assim se chamava a mãe BERQUAND, uma metralhadora a falar. Apregoava aos sete ventos a sua fúria contra a FAMILIA OULD BARRY. Tinham sido vilmente enganados (e parecia ser verdade). Em NOUAKCHOTT no camping TERGIT procuraram um Guia que os acompanhasse até à fronteira.

Discutiram o preço porque cada um pedia um valor diferente e exorbitante. Acabou por ser um policia a apresentar-lhes um irmão que era Guia e que lá aceitou fazer a viagem pelo valor que eles estavam dispostos a pagar … e pagaram.

Fizeram uma viagem muito difícil… especialmente COM AS CRIANÇAS. O Guia acabou por deixá-los no dia seguinte, já à noite, no meio do deserto COM AS CRIANÇAS indicando-lhes que logo pela manhã avançassem  a direito cerca de 2 kms. até encontrarem o forte.
Assim fizeram mas, com grande espanto, à chegada ao forte e rodeados de metralhadoras, foram informados de que não podiam passar. Tinham que voltar para trás PELO CAMPO MINADO COM AS CRIANÇAS e sem o Guia.

Decidiram montar acampamento junto ao forte COM AS CRIANÇAS. Foram várias vezes alertados para se afastarem mas COM AS CRIANÇAS não podiam sair dali. Foram esgotando os mantimentos e a água e por fim um Oficial Marroquino assumiu a responsabilidade de os conduzir ao único forte onde é permitida a entrada e saida de Marrocos -  aquele em que nós estávamos.

Nessa noite quando o nosso Tenente doentinho nos visitou voltou para o forte ainda mais doente. A senhora mãe de familia por causa das CRIANÇAS queria água, queria pão e tudo o que se arranjasse. Nessa noite não tivemos pão fresco! Mas havia Panriko!

FORÇAS DA ONU

Grita o Chefe: LEONOR! Está dentro do forte um carro da ONU. Vê se consegues ir lá acima e pedir-lhes para contactarem Portugal.
O forte é lá no alto e permanentemente guardado com metralhadoras. Não é permitido aproximar sem autorização. 
A LEONOR avança para a estrada de acesso para dar a entender que quer permissão para subir. É ignorada durante seguramente quinze minutos debaixo de um sol escaldante. Finalmente é-lhe feito sinal de que se pode aproximar.

A ladeira de acesso é em areia solta, talvez tenha 50 metros e uma inclinação muito agreste, estarão perto de 50 graus de temperatura.
                                                                                                                     
A LEONOR atinge o cimo, quasi sem folego, fala aos guardas. O carro da ONU já se foi embora, não a puderam mandar subir antes porque não podem facilitar ou proibir o contacto dos estrangeiros com os elementos da ONU. CRETINOS!

BOAS NOTICIAS. AMANHÃ DE MANHÃ VÃO CHEGAR AS AUTORIZAÇÕES E VÃO PODER PARTIR                        MENTIROSOS        AS AUTORIZAÇÕES JÁ LÁ ESTAVAM!

Manhã cedo, levantar acampamento para sermos dos primeiros a arrancar para a frente do ‘convoi’. Já há ordem! LEONOR arranca com o MUSSO e posiciona-te, segue PEDRO.

Passada talvez uma hora lá vamos nós seguindo percurso inverso à ida mas exactamente com as mesmas paragens e as mesmas peripécias.

UM ULTIMO SUSTO

A LEONOR ao volante do MUSSO imprime um andamento rápido mas tranquilo. Tem os sentidos todos em alerta porque embora haja pista, não é fácil. ATERRADOR! Acaba de dar conta pelo retrovisor de que um enorme helicóptero amarelo se aproxima com as pás de aterragem pouco acima do seu tejadilho. O coração ou pára ou tenta saltar pela boca. O aparelho já sobrevoa o jeep, o barulho é ensurdecedor mas ele continua a sua trajectória, sobrevoa muito baixo os carros que seguem à frente e segue, segue sempre. Huff!

É noite ao chegarmos a DAKHLA. Os correios já estão fechados, vamos vêr pelos hoteis se algum dá comunicação para o exterior. Não! DAKHLA é o fim do mundo, ainda com arcaicas centrais manuais para ligação a CASABLANCA. Temos que esperar pela manhã. Já falta pouco! 

O mesmo hotel da ida, dormimos bem, acordámos cedo e uma vez mais… VIVOS!

VOLTAMOS AOS VISTOS, Á POLICIA E À ALFANDEGA

O chefe avança com a papelada. Na policia tudo bem. Na Alfândega tudo mal! Os seguros estão caducados. Como o nosso atraso ultrapassa já mais de uma semana as cartas verdes estão com o prazo expirado.

LEONOR contacta LISBOA, o incansável e extraordinário VANTACICH recebe a chamada a pagar e promete enviar de imediato um FAX para a Alfândega. Nesta bela cidade perdida nos confins do mundo tudo acontece… até faltar a electricidade! NÃO HÁ FAX! NÃO PODEMOS SAIR DE DAKHLA SEM SEGURO! SO PODERIAMOS FAZER SEGUROS NOVOS EM LAAYOUNE.

O Chefe manda o pessoal almoçar uma fritada de peixes e fica para tentar dar a volta ao assunto ou, quiçá, talvez a electricidade não tarde.

O pessoal almoça e o Chefe nada. A LEONOR decide ir render o chefe para ele vir almoçar. Decidida a fazer não sabe bem o quê, esbarra à entrada do edifio de alfândega com quem? Com a mãe BERQUAND. Também a sua carta verde expirou, mas o seguro é anual e portanto não tem carta verde mas tem seguro. Discutiu com o chefe de Alfandega POR CAUSA DAS CRIANÇAS e ele concordou e deu-lhe autorização de seguir viagem COM AS CRIANÇAS.
ADORO A TUA VERBOSIDADE MME. BERQUAND!

Et voilà! Chefe vai almoçar que eu vou tentar safar isto. Bonjour M. le Chefe, Comment ça va?

Este foi o entroito, a seguir vá de puchar pelo ‘organize côr de cravo’ e começar a discutir o que afinal faltava. Os seguros, os seguros são anuais, as cartas verdes é que são com data do pagamento dos bem verdade nem é bem mentira. O senhor chefe não engoliu, pede mais papeis.

A LEONOR pensa rápido, papeis… papeis de seguro. E lá saiem umas folhas A4 dos seguros de vida dos participantes na expedição acompanhadas pela exclamação ‘ espero que isto chegue; a senhora BERQUAND  que acabou de sair daqui com os vistos nem isto tinha!

Oh! Madame ça soufit!

E tudo bem, vamos lá ter à fritada do chefe e dizer que nada feito no que ele obviamente não acreditou.

VAI UMA PROPOSTA DESONESTA

Hoje é quinta-feira, toda a gente sabe de nós, estamos tranquilos, temos dirhams, fizeram-nos encomendas de souvenirs-----  VAMOS CURTIR MARROCOS   e chegamos a Lisboa  domingo.

E ASSIM SE FEZ.

DE NOVO NA ESTRADA … LIVRES!

Vamos fazer uma tirada e dormir em TAN-TAN PLAGE com os nossos amigos DIAWO E AMINA.

SOUVENIR DE TARFAYA

Já é noite e está um vento marítimo muito frio. Parámos na área de serviço ao lado do cabo TARFAYA para abastecer e comermos.

Reboliço por causa de um som semelhante ao grasnar das gaivotas e eis que surge a LINDA e o CHEFE com uma coisinha parda na mão com uns olhinhos pretos vivos e umas orelhitas espetadas tal qual um morcego.

A LEONOR arrepia-se (do frio ou do bicho) e berras … tirem-me essa m… daqui!
Diz a LINDA: oh Nôr é um gatinho!


Qual gatinho isso é um morcego mas se fôr um gato, desse tamanho, não tem hipótere, está morto. Tirem-me isso daqui!

Oh Nôr coitadinho! E a LEONOR lá pega um pedaço de miolo de pão que esfarela e que o pequeno animal com a própria saliva molha e engole. A FOME E O INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA SÃO ESPECTACULARES.

O prestimoso funcionário da ATLAS SAHARA no seu marroquino vernáculo, com muitos gestos explica que a mãe do gatinho foi esborrachada e ele vinha agarrado às redes de uma camionete.

Assim adquirimos mais um companheiro. Embrulhado num lenço e metido no peitilho das jardineiras da LEONOR lá concluiu a viagem e hoje é um ilustre componente do mundo gatal português, aceite pela respectiva comunidade e de nome TARFAYA. Tornou-se na mascote mais querida da LEONOR ultrapassando o bem-querer ao AMARELINHO (que o Helder bem conhece)

RUMO A TAN-TAN PLAGE   -  CHEZ DIAWO

São duas horas da manhã quando paramos à porta dos nossos amigos. No mesmo momento a porta abre-se e o DIAWO aí está a receber-nos de braços abertos.

Este homem aguardava-nos ansiosamente dia após dia, noite após noite há mais de uma semana. O receber-nos àquela hora, vestido, fez-nos compreender quanta ansiedade tinha por não saber de nós. Grande amigo o DIAWO, criado por um português aprendeu o significado da amizade e da hospitalidade. BEM HAJAS!

A Mina, mãe de três crianças, não teve preguiça de se levantar para nos abraçar e tentar ser útil. E foi-o! Arranjou leite do bébé para, com uma seringa da mala de emergência médica, a LEONOR dar mama ao TARFAYA (que assim foi alimentado durante toda a viagem e até ser homem, aliás, gato)

Dormimos nos nossos quartos habituais, tomámos o nosso belo banho matinal, o pequeno-almoço preparado pelo DIAWO, e seguimos uma viagem tranquila até OUARZAZATE.

DAQUI EM DIANTE JÁ NÃO HÁ MAIS AVENTURA. O TEMPO NÃO CHEGAVA PARA IRMOS AO DESERTO, TÍNHAMOS QUE PROGREDIR PARA ATINGIRMOS CEUTA NA NOITE DE SÁBADO.


Entramos na área de controlo noite alta e tivemos que esperar que amanhacesse.O embarque foi aborrecido, os funcionários sonolentos e pouco amáveis sempre na busca de algum dinheiro. A viagem de barco deu para tirar um soninho até ALGECIRAS.

Almoço em terras de Espanha, uma olhada ao Mediterrâneo.

AUTO-ESTRADA ATÉ PALMELA ONDE NOS AGUARDAVA CHAMPANHE , OS COMPANHEIROS DISSIDENTES (os de Lisboa) E UM REBOQUE PARA TRAZER O MUSSO ATÉ CARCAVELOS. (Tinha pifado o motor poucos quilómetros antes).

AQUI FICA O FIM DE UMA GRANDE AVENTURA MAS NÃO DO DESEJO DE CONTINUAR A AJUDAR COM MUITO AMOR QUEM DE NÓS TIVER NECESSIDADE.



NOTAS FINAIS


O HAMID EM 2009

No nosso contínuo deambular por estas mesmas paragens diversas vezes nos voltamos a cruzar com o Hamid – agora Guia – presença constante nas fronteiras Marrocos/Mauritânia.  E assim o retratamos.





A HISTORIA DO TARFAYA

Chegou a Portugal, foi adoptado pela família e, como seu elemento mais jovem, foi acarinhado e mimado como mais não poderia ser.
Cresceu, com um Q.I. superior depressa aprendeu tudo o que se lhe ensinou e sozinho descobriu ainda muito mais. Mas não era só inteligente, era meigo, lindo!

Outras viagens se fizeram, o nosso companheiro não nos podia acompanhar, ficava cheio de saudades e deixava-nos ansiosos o tempo todo até ao regresso. Depois da alegria do reencontro vinham as travessuras e a zanga por se ter sentido abandonado. Para quem diz que nem os poetas sabem traduzir as palavras amor e paixão - aqui está a respectiva definição.

Cresceu no seio da sua família adoptiva, nunca apreciou visitantes eventuais, aceitava com restrições os amigos da casa, mostrando-se cordial mas um tanto arredio só prestando atenção a quem mesmo lhe agradava. Mas não era agressivo e era até acessível

E Foi a sua falha e o seu fim 

Desapareceu

Aflição, buscas por campos, matas e poços, oferta de alvíssaras nos jornais, apelos nas rádios locais. Tudo foi infrutífero.

Três dias depois, com o desespero totalmente instalado, alguém encontra o pequeno corpinho junto ao muro da casa que o tinha acolhido. 

Cirurgicamente decapitado, a mão direita amputada, (qual muçulmano ladrão a que e imposta por crença tal punição) nem uma gota de sangue! Foi barbaramente sangrado antes de ser mutilado. O resto do corpo estava totalmente limpo, não tinha sinais de luta ou tentativa de defesa.

Os restos amputados nunca apareceram.

O TARFAYA FOI BARBARAMENTE ASSASSINADO POR UM COBARDE DESPEITADO QUE SE  TEVE MEDO DE ENFRENTAR UMA MULHER 
Diz-se que com os Deuses não se brinca. Como ateia que sou quero acreditar que o TARFAYA será a mascote de estimação de Allah ou do Profeta e irá assistir à sua vingança. 

Este o meu desejo forte... tão forte que vai acontecer, porque é justo e eu quero.

Tempo e tempo passado, nas noites em que uiva o vento norte, sinto junto a mim o calor do seu corpinho
------------------------------------------- --------------------------------------------------------------
e o tempo parece parar---------------------------------------------- ----------------------------------
na expectativa de voltar a ouvir um som semelhante ao grasnar das gaivotas (e eis que surge a LINDA com uma coisinha parda na mão com uns olhinhos pretos vivos e umas orelhitas espetadas tal qual um morcego. Oh Nôr um gatinho!!!!--------------------------- o meu Tarfaya!


TARFAYA «O FUNDAMENTALISTA ISLAMICO »
ABRIL 1997 - NOVEMBRO 2003                                        
                                                                                         FIM


GRITO DE ALMA - A ficção da verdade - 1999


                                   
REALIDADES OU COMPLEXOS PESADELOS NUM MUNDO LOUCO DE INTERESSES E AMBIÇÕES DESMEDIDAS 


Hipocrisia! Que se passará nos últimos tempos ?

Lorosae - o País do Sol Nascente

Desde Abril (1999) que a situação no pais era caótica. Após o massacre de santa cruz - DILI 1991 - para além de esporádicos episódios de confrontos entre as milícias e as tropas governamentais a situação parecia minimamente estável mesmo depois de em Janeiro (1999) ter sido anunciado o projecto de independência.

Não se entendia bem quais eram as facções armadas e assistia-se esporadicamente a tiroteios dispersos atribuídos a guerrilheiros fortuitos.

O dia 4 de Setembro amanhece debaixo de um tiroteio cerrado, com morteirada a cair por todos os lados, não se percebendo quem eram os atiradores.
Mas que estavam lá, estavam... e em força.

O calor húmido abafadiço era irrespirável. Misturava-se o pó com o cheiro intenso da pólvora, do que parecia metal derretido, carne queimada, não tem descrição que traduza.

O pequeno grupo : Uma  voluntária anónima, o Enf. Coimbra; a Enf. Adelaide; o Dr. Carlos e os espanhóis Jualsalben e Eulogio, refugiados atrás da parede de uma casa meio destruída em ERMERA aguardavam uma pausa no tiroteio para atingir a viatura da UNAMET estacionada duas ruas a frente.

Não era fácil. O fogo das armas parecia partir de um ângulo de 150 graus, varrendo todo o espaço à nossa frente.

Era evidente o nervosismo dos nossos camaradas espanhóis - pressionavam para que estivéssemos atentos ao mais leve recrudescer do fogo para partirmos. estava um avião no AEROPORTO DE BAUCAU à espera para sermos evacuados mas partia a meio da tarde e tínhamos não sabíamos bem quantos quilómetros (400?) até ao aeroporto sem sabermos em que condições.

Não é fácil entrar na narrativa final.... ainda dói e doera para sempre...

No meio de toda a confusão, homens, mulheres e crianças fugindo para junto da nossa parede, murmurando em tétum não se sabe bem o quê, talvez Rai-lacan (terra em chama) chorando, gemendo, alguns cheios de sangue, tornaram a situação ainda mais desesperante, caótica.

Narração na primeira pessoa
O CHEIRO A SANGUE EXISTE E INSUPORTÁVEL JUNTO COM TODOS OS OUTROS CHEIROS JÁ DESCRITOS. MAIS RÁPIDO QUE SE CONSEGUE CONTAR MAIS AFLITIVO QUE SENTIR UMA BOMBA PARA EXPLODIR JUNTO A NOS MAIS PARALISANTE QUE UM GÁS ALGUÉM... NÃO SEI...
MAS ALGUÉM FALANDO TETUM EM TOM SUPLICANTE E CHOROSO PASSA-ME PARA OS BRAÇOS UM PEQUENO EMBRULHO
QUENTE, HÚMIDO, MOLE ... ESTUPIDAMENTE AGARRO, SEGURO, APERTO CONTRA O MEU PEITO ESTARRECIDA, ESQUEÇO O TIROTEIO, ESQUEÇO O BENDITO ESPANHOL A GRITAR PARA CORRERMOS PORQUE DC 10 NÃO ESPERA PARA ALÉM DO PREVISTO. ---- E OLHO O PEQUENO EMBRULHO
NÃO QUERO... NÃO POSSO... NÃO AGUENTO RELEMBRAR O QUE VI... ERA UM PEQUENO SER, UMA CRIANÇA PEQUENINA - 1 ANO,TALVEZ 2.
UNS OLHINHOS NEGROS MEIO MORTIÇOS, SUPLICANTES, OLHANDO-ME ESPANTADOS, MAS SERENOS, SEM MEDO, TALVEZ SÓ COM UMA PERGUNTA PORQUÊ??

Afastei o pano que o envolvia aconcheguei aquela pasta de sangue a mim, toquei a carinha com a minha face, a mãozinha pequenina e escura agarrou uma madeixa do meu cabelo no pescoço. Apertei bem a mim. Queria dar o meu calor, o meu sangue, não deixar fugir aquela vida Gritei... gritei... gritei com o frio e impessoal espanhol para que me levasse ao hospital de campanha. Estava obcecado pelo avião e gritava também para mim «deja-lo, deja-lo--- a una mujer... »A mãozinha descaiu do meu caracol de cabelo, o sangue estava pastoso mas não escorria e Aqueles olhinhos negros, parecendo molhados de lágrimas, tinham perdido para sempre a luz da existência. Estão gravados em mim para sempre, pela sua paz, pelo perdão que pareciam transmitir e pelo amor que parecia querer ainda dar-me juntamente com uma mensagem JÁ NÃO VALE A PENA . 
Adeus para sempre pequeno ser--- nem tenho a consolação de pensar na vida para além da morte para ter a expectativa de te voltar a ter nos meus braços. Então, sim, inteiro, feliz como tinhas o direito de ser; com o meu cabelo na tua mãozinha escura . Descobrir-te e saber se eras um menino ou uma menina. De ti só me ficou o teu olhar sereno. O bendito DC 10 lá estava ainda a nossa espera depois de uma viagem por estradas e picadas impossíveis, barricadas, postos de controle e ultrapassados todos os desafios. Uma viagem de regresso de quatro dias para esquecer, escalas técnicas, olhares curiosos e incómodos e finalmente o chegar a casa com a decepção da MISSÃO NÃO CUMPRIDA .
A TI PEQUENINO SER PROMETO QUE TAMBÉM POR TI IREI SEM RESERVAS A QUALQUER LUGAR NO MUNDO ONDE POSSA ALIVIAR O MEU ESPÍRITO DO DESGOSTO DE TE TER DEIXADO PARTIR.

 NÃO VALEU A PENA!!!



F I M

D E

DESTINOS SOLIDÁRIOS - AVENTURAS COM HISTÓRIA 

Comentários

Furacão ML disse…
Uma grande descrição das dificuldades de viagens por África na época está retratado em http://jovelino.com/page32.html Boa leitura!

Mensagens populares deste blogue

CRONICA DE UMA EXPEDIÇÃO 1996

EXCERTOS GRANDE ODISSEIA