EXCERTOS SAHARA CHALLENGE

O MENINO QUE NUNCA TINHA TIDO UNS SAPATINHOS


HÁ SEMPRE MOMENTOS DE EMOÇÃO QUE FAZEM A DIFERENÇA «No meio das roupas a Leonor encontra um par de ténis pequeninos (novinhos em folha, a rirem-se para ela); não resiste e tira-os. Cá fora, no meio daquela multidão de miúdos de todos os tamanhos, está um ‘muito especial’. Pequenino, talvez 3 anos, ladino e alegre com umas gargalhadas sonantes que nos ficarão para sempre na memória. Continua a estender a mão direita a pedir mais prendas, com a esquerda escondida atrás das costas.

São para ele os ténis… foram-lhe calçados… e riu outra vez, não só com todo o rosto mas também com uns olhitos gulosos e deslumbrados. Nunca tinha tido uns sapatos e não sabia andar com eles (parecia um gatinho com cascas de nozes nos pés). Uma fotografia colhida no momento talvez consiga ilustrar devidamente esta descrição.»






UM SORRISO


«Hora de almoço, paragem em TALOUST para a nossa última grelhada de beira de estrada. Bela grelhada e muita simpatia do dono do estamine tipicamente marroquino.

Lembram-se do garotinho que ria muito, contente com os pequenos brinquedos e rebuçados que lhe demos? Quem lhe tirou uma fotografia ? Era o retrato vivo da alegria e da felicidade. Quero essa fotografia! »


Sentada na berma da estrada uma mulher triste e lamurienta com uma criança muito pequena no regaço. Traquinando por ali um menino também de tenra idade e muito pequenino, acercava-se do grupo com curiosidade e um largo sorriso estampado na cara miudinha.

Estamos de regresso e não temos quase nada mas rebuscam-se os carros e lá estão uns rebuçados, uns pequenos brinquedos; ainda há bolos secos e sumos nas nossas rações. Tudo o que lhe damos ele vai de imediato entregar à mulher (que julgamos ser a mãe) e continua a rir e a rodear-nos, não à espera de mais, mas feliz por agarrar as nossas mãos e pelos carinhos que lhe fazemos.

Voltei a TALOUST no ano seguinte; voltei ao restaurante marroquino de beira de estrada e lá estava o dono e a bela grelhada à nossa espera mas do «menino» nem rasto. O ‘marroquino’ já nem dele se lembrava.

Se nas nossas viagens há situações que marcam? Há e muitas. Esta é uma! Ficamos a pensar naquele menino, igual a muitos meninos com que nos cruzamos. Damos-lhe uns minutos de felicidade mas não mais que isso. Como poderíamos ir mais além? Porquê não acreditamos que ‘um qualquer Deus’ se vai sentir envergonhado por não proporcionar a esses meninos tudo aquilo a que têm direito ---- ou porque não nos ajuda a sermos nós a substitui-lo nessa missão.?

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