EXCERTOS GRANDE ODISSEIA

EIS A MAURITANIA

A primeira imagem… muita muita lata a formar um indescritível aglomerado populacional miserável. Bandos de crianças barulhentas e sujas a apedrejar violenta e convictamente as nossas viaturas.

Parece que sentimos saudades dos bandos de crianças marroquinas « muito chatas» mas amistosas, sempre com um sorriso e a mão estendida para «un souvenir, um dirham, un cadeau».

Novamente a «gendarmerie» e a «douane»; fazer seguros, comprar ouguiyas e policias ouvir uma prelecção do chefe local com muitas recomendações sobre guias e impostores,
PARA NOS TRANQUILIZAR
- a garantia de que « o governo da Mauritânia » tinha os olhos em nós e que seríamos imediatamente socorridos (?) ou encontrados se tal fosse considerado necessário;
- a afirmação de que « em terras mauritanas, éramos filhos da Mauritânia».

Hoje podemos dizer que acreditamos ter sido filhos dilectos da Mauritânia pois, só fugindo podemos regressar a Portugal . Pelos nossos Passaportes ainda agora lá permanecemos.

UM ULTIMO SUSTO

A LEONOR ao volante do MUSSO imprime um andamento rápido mas tranquilo. Tem os sentidos todos em alerta porque embora haja pista, não é fácil. ATERRADOR ! Acaba de dar conta pelo retrovisor de que um enorme helicóptero amarelo se aproxima com as pás de aterragem pouco acima do seu tejadilho. O coração ou pára ou tenta saltar pela boca. O aparelho já sobrevoa o jipe, o barulho é ensurdecedor mas ele continua a sua trajectória, sobrevoa muito baixo os carros que seguem à frente e segue, segue sempre. Huff!

Para nos tranquilizar: a garantia de que «o governo da Mauritânia» tinha os olhos em nós!




O MEDO«O MEDO NÃO É BOM COMPANHEIRO»



A GRANDE ODISSEIA 1997 – GUINÉ-BISSAU (Transcrição da reportagem realizada)

Já no regresso de uma viagem repleta de desafios: O CHEFE DÁ ORDEM DE MARCHA

«O sol começa a tombar; hora ideal para vencer quilómetros, fazendo beneficiar os nossos sacrificados motores e corpos. Ainda há estrada de alcatrão e vamos ter de chegar à noite ao embarcadouro de BARRA

Vamos apertar o andamento pois temos as barcaças de BISSORA em S. VICENTE e S.DOMINGOS no rio CACHEU que param ao escurecer.

Bom andamento, um engano num cruzamento traiçoeiro, uma viragem para a direita e aí está um desvio da rota. O GPS mostra que voltámos à direcção correcta e, pela carta da região o chefe conclui que vai atravessar o rio CACHEU mais acima mas vai conseguir chegar a ZIGUINCHOR sem voltar para trás.

A negra noite africana cerrou sobre os nossos jeeps e as nossas cabeças. Estamos embrenhados em plena selva tropical com o respectivo calor mole e abafadiço. A estrada há muito que acabou, temos um trilho onde podemos seguir em fila comendo o fino pó que o da frente levanta e nos tira totalmente a visibilidade.

Perigo, perigo constante, o trilho não é a direito e conseguimos vislumbrar as árvores quando quase já não dá para fugir. Não é possível continuar assim; vamo-nos separar do carro da frente e dar distância suficiente para fugirmos à poeira.

À frente vai o PATROL com o Pedro e o Hélder, pois, sem ar condicionada, não aguentariam de outra forma; seguimos no MUSSO a Leonor e a Rita e a fechar o RANGE ROVER com o chefe e a Linda.

Leonor! Atenção! Vai aí um burro e gente! OK, Rita, já vi!

A Leonor pensa “ que se lixe o burro, isto mete mais medo que um susto! Somos seis gatos pingados, não sabemos onde estamos, desarmados, se estes gajos nos preparam uma emboscada, estamos fritos” - que se lixe, prego a fundo e fé na máquina!

Atrás o Chefe não diz (senão a Linda tem outro faniquito) mas pensa… que terá dado naquela ? Com o espalhafato que fez espantou o burro. Diz a Linda: Oh Amândio olha o burrinho tão giro parece que se assustou com o carro da Nôr!

Espantou sim e de que maneira… iniciou tal cavalgada que atirou com um homem pela ribanceira lateral. Mesmo assim deu para o RANGE passar.

E o chefe pensa… esta gente é pacifica (?!) uma emboscada aqui era uma gaita! Ainda bem que ninguém pensou nisso e vão a andar bem!

A Leonor pensa… ainda não foi desta que saiu a emboscada! Estes fulanos nem pensaram ainda nisso!

Leonor!!! olha um sinal de luz aí à frente, parece o PATROL parado na berma esquerda, o que terá acontecido? Rita mantém-te calma, não é nada, não é nada… Poça aí está ela, agora é que é ! isto não estava no calendário.

Já passou, …fogo!

Oh Hélder, está tudo bem com vocês? Oh Leonor então não viste os sinais da lanterna para parares? Tens um abismo por baixo desses troncos soltos e a velocidade que trazias podia ter sido um suicídio.

Entretanto, o chefe que se tinha aproximado da ponte improvisada, vê os toros aos saltos pela passagem do MUSSO, apercebe-se do abismo e do caudal de água e suspende a respiração até concluir que também ainda vai conseguir passar.»

A Leonor não compreendeu sinal nenhum, o medo e a sugestão de uma hipotética emboscada fizeram-na acelerar empenhando todos os seus sentidos num dar tudo por tudo para vencer a situação.

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